quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Análise Semiótica da capa da revista Veja, edição 2169 de 16 de Junho de 2010

Diversos componentes sígnicos foram usados na diagramação da capa da revista Veja, edição 2169 de 16 de Junho de 2010 ( ANEXO 1).
Analisando primeiramente um dos aspectos que fundamentam o signo, o qualissigno, mera qualidade, verifica-se a presença de formas significativas, como a da faixa que está sendo desenrolada pelos três candidatos, que juntas constituem uma forma similar à da silueta da faixa entregue aos presidentes da república, isso faz com que se inicie na mente do leitor, uma cadeia associativa de significados.
A materialização dessas formas e de todos os signos existentes na capa da revista, feita com o uso de tintas e outros recursos existentes, constitui o que se conhece como signo de uma existência singular e real, o sinsigo.
Partindo-se para os signos fundamentados por leis ou convenções chega-se ao legissigno, que no caso da capa em questão se manifesta na formação de um alicerce para a utilização de signos, tais como o brasão das armas, que se não fosse subsidiado por uma lei, não faria sentido na capa da revista. O mesmo se aplica à utilização das cores das faixas que só fazem sentido devido à alusão convencionada que fazem ao país.
O tema abordado na capa está inserido no contexto das eleições presidenciais brasileiras que estão marcadas para o mês de outubro desse ano, e esse é o objeto dinâmico da capa da revista, ou seja, é o objeto representado, o objeto que é abordado na reportagem. Essa constatação foi possibilitada por meio da análise de aspectos textuais e não textuais.
Já o objeto imediato do signo é a  maneira como o objeto dinâmico é representado. Nesse caso o objeto dinâmico principal da capa da revista é a eleição presidencial brasileira, como já foi explicado anteriormente, e os modos com que a eleição é representada, ou seja, os objetos imediatos, são diversos: desenhos e suas respectivas aparências, pequenos textos com suas palavras e seus significados estabelecidos por convenções, as cores, dentre outros.
Os elementos textuais, ou seja, as palavras presentes na capa formaram uma sequência linear e irreversível de signos, o que constitui um sintagma. O autor das frases possuía, sem dúvidas, um repertório de signos para serem usados na reportagem, mas por algum motivo especial, que pode estar incluído em uma finalidade persuasiva, comunicativa ou instigativa, ele escolheu as palavras apresentadas na capa. Essas diversas opções de palavras de que o autor dispunha são conhecidas semioticamente por paradigmas.
Por os cidadãos brasileiros estarem vivendo um ano eleitoral, o autor explora o objeto da matéria- as eleições, sintetizadas pela presença de caricaturas dos três candidatos que têm maior intenção de voto registrada- de maneira que o interpretante criado na mente do leitor, pelo signo usado, o remeta ao contexto político do país e principalmente ao acirrado ranking de intenções de votos destacado na capa da revista.
Marina Silva, Dilma Rousseff e José Serra, os três candidatos mais expressivos nas eleições presidenciáveis de 2010 no Brasil, foram representados por signos textuais- seus nomes estão escritos na capa- e também por ícones imagéticos, ou seja,  ícones que estabelecem relações de semelhança com seu objeto no nível da aparência.
Os ícones utilizados são caricaturas dos candidatos.  A disposição desses ícones  funciona como indício da posição real dos candidados na disputa pelo Planalto Central, pois José Serra e Dilma estão colocados lado a lado no desenho e nas pesquisas de intenção de voto eles estão praticamente empatados, segundo a reportagem da revista Veja analisada.
Essa não aleatoriedade na colocação dos ícones caricatos dos candidados se apresenta como rema, ou seja, como a possibilidade de ser algo, que só se confirma com a leitura da reportagem, ou se o leitor dispuser de outras fontes de informação que o permita saber a posição ocupada por cada pretendente no ranking dos presidenciáveis.
É importante perceber que os aspirantes à presidência foram representados desenrolando uma faixa verde ou amarela, que são símbolos convencionalmente estabelecidos e fundamentados para se remeterem ao Brasil por estarem presentes na bandeira nacional do país e serem asseguradas pela constituição brasileira de 1988. Na bandeira as  cores verde e amarelo também foram convencionadas para fazerem alusão, respectivamente, às matas que dominam grande parte do território brasileiro e ao sol que ilumina a terra dos tupi-guarani.
Outro símbolo de significativa expressão é o brasão de armas da república, um emblema estabelecido pela constituição nacional como uma referência aos poderes da república. Essa insígnia, colocada acima da caricatura dos candidatos, elucida por qual poder os três candidatos estão em disputa: o da presidência da república. Além do fato de que sua posição, sobreposta às faixas verde e amarela desenroladas pelos candidatos, funciona com um indício de que essa faixa representada na capa da revista e construída pela junção das três faixas dos candidatos, constitui o que é verdadeiramente a faixa que será entregue àquele que vencer as eleições seguindo uma tradição secular brasileira.
Os paradigmas da imagem também exerceram um papel importante na formação da capa da revista analisada.
Percebe-se que os ícones que representam os candidatos foram produzidos através de foto manipulação computacional, ou seja, baseado em uma fotografia( paradigma fotográfico) de cada candidato, o autor das imagens, faz um recorte do rosto de cada um e os recoloca sobre um corpo feito através de computação gráfica para fazer uma alusão a cada um dos presidenciáveis sem necessariamente incluir a foto de cada um deles. O que, de certa forma, torna a capa da revista mais irreverente e instigante.
Por fim pode-se afirmar que os elementos semióticos presentes na capa da revista são inúmeros e imprescindíveis ao sucesso da transmissão de mensagens entre o autor e o leitor.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, J. Teixeira. Semiótica, informação e comunicação. São Paulo: Perspectiva, 1983. 222p. (Coleção debates;168).
REVISTA VEJA. São Paulo: Abril, 16 junho ,2010. ISSN. 2169.Disponível em <http://veja.abril.com.br/>.Acesso em 24 jun.2010.
SANTAELLA, Lúcia. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 1998.221 p.
SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992. 84 p.
SANTAELLA, Lúcia. Os três paradigmas da imagem. In:NÖTH, Winfried;1998.


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